Com célia ribeiro e participação do Núcleo Animazul/Instituto Marlin Azul
Com o intuito de enriquecer a recepção de filmes audiodescritos por pessoas com deficiência visual, foi pensada uma metodologia para propiciar a compreensão de elementos da linguagem cinematográfica como enquadramento, movimento de câmera, espaço fora da tela, luz, entre outros aspectos.
A discussão desses elementos da linguagem cinematográfica pressupõe o entendimento do que seja o campo visual dos videntes, e de como se dá sua transcrição para imagens de duas dimensões, como as presentes nas telas de filmes.
Apresentação
Planejada em 2019, antes da pandemia, a oficina “Sentindo o Filme” deveria ter acontecido de forma totalmente presencial no primeiro semestre de 2020. No início de 2021, já tendo sido adiada por duas vezes, os objetivos do projeto foram adaptados.
Propôs-se então um registro audiovisual a ser disponibilizado ao público em gera acompanhado do lançamento de folder explicativo da metodologia que orientou a construção das maquetes. Além disso, foi proposta uma roda de discussão sobre a elaboração dos materiais didáticos e sobre propostas de uso dos mesmos; com a participação das pessoas envolvidas em sua construção, de deficientes visuais, de representantes de instituições capixabas que desenvolvem trabalhos com deficientes visuais.
Metodologia
Tendo como referência a animação “Menina da chuva”, dirigida por Rosária, foi construída uma maquete tridimensional de uma cena deste curta.
Baseada no enquadramento dessa cena na animação, foi realizada a segunda maquete, composta pelos distintos planos bidimensionais, encaixados verticalmente sobre uma base, respeitando as proporções das distâncias de profundidade sugeridas na cena.
Os planos retirados da base, sobrepostos e agrupados, formam o terceiro material didático, que denominamos foto-objeto, ou seja, uma foto com relevo, na qual se destacam os diversos planos, podendo ser perceptíveis ao tato.
Por meio da experimentação tátil dessas três maquetes, é possível estabelecer um diálogo com deficientes visuais, sobre questões relevantes envolvidas na transcrição de uma cena tridimensional para uma bidimensional; como ponto de vista, ponto de fuga e a consequente diminuição dos objetos conforme a distância do observador.
O FIlme
A premiada animação “Menina da chuva”, dirigida por Rosária, conta a história de uma criança de rua que busca estabelecer contato com outras, durante um dia em que percorre uma região da cidad.
O curta-metragem foi escolhido como ponto de partida para a realização de maquetes, tanto pela temática – tratada de maneira sensível – como pelo impecável roteiro. Acrescenta-se a esta escolha os desenhos que propiciam o envolvimento afetivo da recepção com os desejos de sociabilidade, com as frustrações e com a solidão da personagem; além da animação dirigir-se tanto a crianças como a
adultos.
Os sentimentos que perpassam a história estão intimamente relacionados com os desenhos dos personagens e com a direção de arte.
MENINA DA CHUVA
Brasil (RJ), 2010
Diretora: Rosária
Produção Executiva: Rosária
Direção de Arte: Rosária
Trilha Sonora: Leonardo Mendes
Maquetes, foto-objetos e bonecos
Foram escolhidas duas cenas da animação “Menina da chuva”, como referência para os materiais didáticos.
Cena 1
Um grupo de crianças sentadas no chão, brincando com bonecas, enquanto a protagonista se distancia, após ter sua tentativa de participar da atividade rejeitada pelas meninas.
A maquete tridimensional desta primeira cena é composta por bonecas de pano que representam as crianças e por bonequinhas menores que reproduzem as bonecas com as quais essas crianças brincam.
Maquete bidimensional
O manuseio da foto-objeto permite perceber o achatamento que ocorre na imagem bidimensional com a supressão destes espaços, mas guarda um relevo entre as figuras para que possam ser identificadas.
A experiência tátil dos elementos da maquete tridimensional propicia a compreensão do achatamento da imagem bidimensional e do ponto de vista.
Cena 2
A Menina da chuva observando um aquário em uma loja de animais onde peixinhos nadam em círculo, ora aparecendo inteiros, ora total ou parcialmente encobertos pelos outros.
peixinhos de pano
Foram confeccionados peixinhos de pano conforme os da cena do aquário, para serem manipulados pelos participantes da oficina de modo a compreenderem o fenômeno visual do encobrimento de um objeto por outro que se situa a sua frente, desde que não seja transparente.
TV Educativa – ES